O Serviço de Fisioterapia do Hospital São Lucas da PUCRS (HSL), associado ao curso de Fisioterapia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS, está utilizando tecnologias de realidade virtual como um método para a recuperação de pessoas internadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) com sequelas da Covid-19.
A tecnologia usada na reabilitação dos pacientes pós-Covid é conhecida como realidade virtual – ou Virtual Reality (VR). A realidade virtual funciona através de um óculos VR, sendo um dispositivo que causa total imersão do usuário por meio de efeitos visuais, sonoros e sensitivos.
Segundo o hospital, a ideia visa a eletroestimulação muscular e treinamento muscular ventilatório, obtendo resultados como a retomada da força física, do controle e da coordenação motora e aspectos lúdicos. O hospital ainda adquiriu dez novos óculos VR para a iniciativa poder ajudar mais pacientes utilizando o recurso simultaneamente.
De acordo com o HSL, com os óculos de realidade virtual são exibidos aos pacientes conteúdos interativos que simulam situações reais e do cotidiano, como pescarias, escaladas em montanhas e caminhadas na praia.
A professora do curso de Fisioterapia da PUCRS e chefe do Serviço de Fisioterapia do HSL, Flávia Franz, explica que durante a imersão nessas cenas, a equipe trabalha exercícios funcionais associados aos vídeos que os pacientes estão assistindo. “Estimulados assim, o paciente a elevar as mãos para jogar uma vara de pesca, subir até o cume, colocar os seus pés na areia e até caminhar à beira-mar. Tudo isso auxilia de forma importante na recuperação de sequelas”.
A iniciativa
A iniciativa ocorreu após a fisioterapeuta e professora da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS Clarissa Blattner propor o uso da VR com um grupo de estudantes. Depois, surgiu a ideia de implementar a prática no hospital.
No mesmo dia, um paciente em recuperação pós-Covid-19 utilizou o recurso e o retorno foi instantâneo. “Tanto a equipe como os alunos e professores ficaram encantados com o resultado. O que vimos foi a comprovação do que propõe a realidade virtual: a imersão e a interação, promovendo motivação para um trabalho de maior independência funcional aos pacientes”, conta Flávia.
Participam, junto à equipe de fisioterapia do hospital, um grupo de 18 estudantes do curso de Fisioterapia, coordenado pela professora Clarissa, que realizam estágio na recuperação de pacientes com diferentes doenças, incluindo a Covid-19.
Clarissa comenta que esse tipo de atividade facilita o processo de reabilitação e torna mais agradável para os pacientes. “Apesar de não substituir outros processos inerentes à reabilitação, percebemos que além da vantagem física, a VR impacta na motivação e na adesão ao tratamento”.
A estudante do curso de Fisioterapia Kellyn Gatto atendeu um paciente de 72 anos acometido pela Covid-19, ela recorda que ele gostava muito de pescar e, com o uso dos óculos VR, ele pode sentir novamente um pouco dessa paixão. “Ele está internado desde dezembro e, para ajudar a sair um pouco do ambiente hospitalar, simulamos a prática da pesca. Ele pôde fazer o movimento de jogar a rede e puxar a linha, por exemplo, que ajuda a entreter e serve como motivação para realizar exercícios alternativos”, conta a estudante.
A fisioterapeuta Flávia relatou outro caso ocorrido. Dessa vez, de um paciente que passou 30 dias intubado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O paciente relatou à equipe que era motorista de ônibus e que tinha muita saudade de dirigir.
Segundo a fisioterapeuta, a equipe então carregou um vídeo de corrida de Fórmula 1 e o resultado foi emocionante. “Ele estava com a cabeça mais lateralizada para a esquerda com um déficit motor muito grande. Notamos imediatamente que ele começou a fazer os movimentos de direção com os membros superiores e a inclinar a cabeça para o outro lado nas ‘curvas’. Foi muito gratificante para a equipe perceber que, ao retirarmos o paciente do ambiente hospitalar, mesmo que figurativamente, passamos a ter um grande aliado no processo de reabilitação”.
Foto: Lucas Villela/Hospital São Lucas PUCRS/Divulgação
LEIA MAIS:
Empresa holandesa desenvolve bafômetro para detectar Covid-19
Pesquisadores da UFU desenvolvem biossensores capazes de diagnosticar inúmeras doenças, incluindo a Covid-19
Tecnologia brasileira reduz em 80% o uso do ‘pulmão artificial’ em pacientes com insuficiência respiratória aguda