A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou, após o “apagão” de dados sobre a pandemia de Covid-19, a edição atualizada do Boletim InfoGripe que indica que houve um aumento de 135% nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) das últimas três semanas de novembro em relação às três últimas semanas atuais.
A análise mostra que o país passou de 5,6 mil casos de SRAG para 13 mil. “A velocidade com que a SRAG se espalha entre a população cresceu, semanalmente, de 4% para 30%”, afirmou à Agência Fiocruz de Notícias o pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe.
Na pesquisa, 25 das 27 unidades federativas apresentaram sinal de crescimento no período de 2 a 8 de janeiro deste ano. O Estado do Rio de Janeiro, embora mostre estabilidade na tendência de longo prazo (últimas seis semanas), tem indícios de crescimento na de curto prazo (últimas três semanas). Roraima, no entanto, é o único estado que mostra sinal de estabilidade nas tendências de longo e curto prazo.
“Praticamente todos os estados apresentaram sinal de crescimento anterior às SE 52 de 2021 (26/12 a 1/1) e 1 de 2022 (2/1 a 8/1), deixando claro que tal contexto é anterior às celebrações de final de ano, reforçando a importância dos alertas quanto aos cuidados necessários à época. A manutenção da divulgação dos dados durante este período, certamente teria dado melhores condições para a população tomar decisões adequadas ao momento epidemiológico”, ressalta Gomes.
Em relação às capitais, 24 das 27 capitais mostram sinal de crescimento de longo prazo até a Semana Epidemiológica 1, de 2 a 8 de janeiro. Apenas Boa Vista, Porto Alegre e Rio de Janeiro não apresentam crescimento nessa tendência. No entanto, a capital fluminense tem sinal de crescimento na tendência de curto prazo, enquanto Boa Vista e Porto Alegre mostram sinal de estabilidade nas tendências de curto e longo prazo.
“Assim como no caso dos dados estaduais, a imensa maioria das capitais com sinal de crescimento iniciaram esse processo antes da SE 52 de 2021 (26/12 a 1/1), de forma que é anterior às festas de final de ano, o que justifica as recomendações de cautela e implementação de restrições para minimizar o risco de agravamento do quadro epidemiológico à época”, destaca o pesquisador.
Faixas etárias
O Boletim ainda revela um crescimento em todas as faixas etárias a partir de 10 anos, desde o final de novembro e início de dezembro até o momento. Os pesquisadores indicam que os dados laboratoriais demonstram que esse aumento foi consequência tanto da epidemia de gripe quanto pela retomada do crescimento de casos de Covid-19 no Brasil.
De acordo com a publicação, em todas as faixas etárias foi constatado um aumento significativo de casos associados à influenza A, o vírus da gripe, ao final de novembro e durante o mês de dezembro, tendo inclusive superado os registros de Covid-19 em algumas destas semanas. Os dados relativos ao final de dezembro e à primeira semana de janeiro, no entanto, apontam para a retomada do cenário de predomínio da Covid-19 no país.
Na população infantil, na qual os vírus sincicial respiratório (VSR) e influenza A ainda prevalecem, também foi observada uma tendência de aumento nos casos positivos para Covid-19. Segundo Gomes, o cenário de aumento de casos graves de influenza e de Covid-19, anteriores às festas de final de ano, sugerem que tais eventos podem ter representado risco significativo para a população, especialmente em eventos com muitas pessoas.
“Esse fato torna fundamental a retomada de ações de conscientização da população e minimização de risco para mitigar o impacto ao longo do início do ano de 2022. Tais dados também deixam claro a importância do cancelamento de grandes eventos de réveillon por parte das autoridades de diversas localidades, ainda que os dados de notificação estivessem apresentando problemas na sua divulgação”, ressalta Gomes.
O pesquisador ainda chama a atenção para o fato de como “sempre há atraso entre a identificação de casos, o resultado laboratorial e a inserção do resultado no [Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe] Sivep-Gripe. Com isso, a população viral associada a casos recentes pode sofrer alterações significativas em atualizações seguintes”.
Foto: Freepik